A síndrome de palavras me ataca quando me vejo com os dedos amassados pela caneta. Quando olho minha mão e a vejo toda riscada de tinta azul. Ela me ataca na hora que me vejo olhando pela janela do ônibus e pego de relance um texto fulo. Na hora que escrevo palavras soltas durante a aula de Física e Matemática, quando penso que como eu, o X pode se sentir sozinho, às vezes.
Ela me ataca quando a inspiração vem. Eu não crio a inspiração, ela simplesmente vem por vontade própria e gruda em mim, e eu rimo com o meu próprio verbo. A síndrome de palavras me ataca quando prendo o choro e o solto em uma folha de papel. Quando seguro as lágrimas e as derramo em forma de palavras. Quando me engasgo com um verso e cuspo um poema. Quando me emociono com um conto e escrevo sobre seu final. Porque sou uma bagunça tão grande que nunca caberei em um papel pequeno.
Agradeço a Deus por essa doença. O que seria de mim sem ela? Pois quando não sei o que fazer, quando meu rumo está direcionado a uma parede, e quando minha vida parece perdida, é ela que me salva. Mostra que sou a poesia de mim mesma.
Ela mostra que minha salvação é escrever. Escrever aquilo que não sei por em atitudes, aquilo que não ouso falar em voz alta, aquilo que quando tento gritar, as palavras fogem e as encontro em uma linda folha branca. Ela mostra que meu caminho é a linha de uma folha, esperando para ser escrita. E no momento que a pego, começo a andar sobre ela, e ela fica toda riscadinha, às vezes um rascunho, quando erro algo na vida. Outras linhas perfeitas em ortografia, quando estou de bem com a vida.
E percebo que meu rumo, meu caminho, minha história, deve ser vivida sobre aquele papel branco que me aguarda. Que me chama. E é essa doença. Essa síndrome de palavras que me ajuda a continuar. Que me cura. Afinal, toda poesia tem seu fim poético.